Visto que vivemos num mundo em que quem tem uma ideia é idiota e quem se aproveita dela é um génio, venho neste momento assumir-me como génio. Não é que me tenha aproveitado de nada… apenas partilho boas ideias que são de outros e aproprio-me delas… o que é muito diferente… acho eu. Pelo menos, não ando na venda ambulante de estupefacientes em festas de verão, onde esses mesmos estupefacientes já estiveram introduzidos em zonas supostamente humanamente protetoras… o que poderia ser pior… para quem os consome.
Então, apresento-vos a ideia do Fánã. Quem é o Fánã, perguntam vocês? Muito bem: o Fánã é o meu vizinho, que tem dois empregos a tempo parcial. De manhã é bêbado e, de noite, toxicodependente, que para mim é mais toxicoidependente porque nunca vi ninguém a lhe injetar no braço a não ser ele. Mas enfim! E além desses part-times, ele ainda acumula funções como eletricista. E, deixem-me dizer: que excelente eletricista é aquele homem!
Por exemplo, certa dia em que pedi ao Fánã de manhã (sim, tem de ser de manhã, porque ele de noite nem se arrasta) para ir lá casa para ver se uma ficha elétrica defeituosa podia ser arranjada.
— Ó Fánã! Onde está a tua caixa de ferramentas?
Pois eu só via ele munido de um cigarro na orelha e outro na boca, na qual usava para acender os próximos. Ao que ele me retorqui com muita confiança:
— Buzeifanumdumum!
E tive de concordar prontamente. Ele sempre foi o senhor da palavra!
Foi até à ficha, enfiou a língua no gargalo e as bochechas ficaram imediatamente vermelhas. Concluí: há corrente! Pedi que tirasse a língua e ofereci-lhe um Tia Maria como agradecimento. Ele dizia que era a sua sobremesa habitual depois do almoço. Não sei qual almoço…, mas pronto!
Nesse momento, ele veio-me com uma conversa sobre a ideia para um programa de televisão. Antes que ele começasse a falar, abri de logo uma janela, porque não sei porquê, a casa cheirava a porco queimado e a bedum. No seu dialeto, ele propôs o Shark Tank Português.
— Mas isso já tivemos, Fánã! — contestei, abrindo a aporta de casa porque a porcaria do cheiro não saia.
Ele explicou melhor: ele queria um Shark Tank tipicamente português, a ser realizado em todas as tascas de Portugal, com o primeiro episódio a ser gravado em São Teotónio da Carvalheira.
— Mas porquê esse sítio? — perguntei, limpando a minha boca por ter vomitado por causa do bebum que sai da sua boca.
Ele explicou: foi lá que conhecera a sua única namorada que usava Colgate, mas depois o trocou pelo Gilberto da Farmácia. Vai-se lá entender!
Foi nesse momento que me apresentou o seu projeto, num guardanapo que tinha no bolso, como se estivesse no programa a se apresentar aos Cações… sim, porque Sharks é na América, mas em Portugal o tubarão português é o Cação. Dignidade acima de tudo!
Para começar a sua apresentação, ele levantou-se… e caiu… e depois levantou-se… voltou a cair… e para evitar que caísse no vómito, dei-lhe uma cadeira, na qual ele sentou-se… e voltou a cair… ao menos serviu de esfregona. Olha, uma boa ideia para o Charco Tascas: usar os bêbados que estão no chão para serem usados como… bom. E ele começou:
“Olá, Cações! Onde vocês estavam quando ouve o apagão de 28 de abril de 2025 às 11h33? Eu estava em casa e não via nada por causa da nevoa que tinha e fiquei mesmo arreliado: “Que raio, mas não há luz? Não tenho painel solar, nem gerador. O que vou fazer?” Foi nesse momento em que tive uma ideia. Quem me vai ajudar é o Joel. O Joel é epilético da zona e sempre que vai a discotecas e vê os LEDs a fazer aquelas luzes espetaculares, começa logo a fazer breakdance no chão. E eu pensei: “Se ele tem excesso de voltagem no cérebro durante aquelas danças, eu posso aproveitar isso para energizar a minha casa.” Dito e feito. “Ó Joel, não queres vir cá casa num instante?”, gritei da janela. Ele veio a correr, entrou dentro de casa, fechei a porta e apontei-lhe uma lanterna vermelha para os olhos e ele começou logo com o breakdance dele. Peguei nos cabo elétricos do carro, liguei o positivo numa orelha e o negativo na outra, e as outras pontas no quadro elétrico… e nada funcionou. Pensei: “Queres ver que o Joel está com pouca bateria? Fánã, precisas de mais breakdanceres, pá!” Por isso, estou aqui porque preciso da vossa ajuda para convidar mais epiléticos e comprar mais cabos de energia”.
Foi nesse momento, que o deitei na cama dele porque…sim, ele foi falando enquanto o arrastei até a casa dele… e guardei todas as suas palavras num bloco que tenho para que se um dia houver este programa, eu vá com estas ideias para lá. “Ah e os direitos de autor?” Não se preocupem: nessa altura, ele estará com a língua enfiada numa ficha minha, que o convidarei a arranjar.
